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CONTRASTE LEITEIRO NA MONITORIZAÇÃO E VALORIZAÇÃO DO BEM-ESTAR ANIMAL EM VACAS LEITEIRAS

1. Avaliação de bem-estar animal

O bem-estar animal está muito dependente das condições ambientais em que o animal se integra, incluindo a possibilidade de expressão dos comportamentos naturais da espécie, pois normalmente desencadeiam respostas comportamentais e fisiológicas, que permitem aferir se a saúde física e mental são comprometidos.
Para a realização de uma avaliação válida de bem-estar é fundamental recorrer a diferentes indicadores que se complementam entre si. Por isso, a maioria dos protocolos recomendam a utilização de um conjunto de medidas combinadas e quando o bem-estar se revela pobre, seja possível determinar a origem, a intensidade e a duração do seu efeito sobre o animal.
Atualmente, existe um forte compromisso dos produtores no cumprimento dos requisitos de bem-estar na produção animal, como resposta à oferta de produtos de origem animal que transmitam confiança, segurança alimentar e a qualidade desejável pelos consumidores finais. Contudo, foi necessário implementar na produção, sistemas de certificação de bem-estar animal credíveis e fiáveis, de carater internacional (exemplo do Welfare Quality®, 2009) capazes de garantir que o bem-estar dos animais é assegurado em todas as fases de produção (vitelos, novilhas, vacas leiteiras).
O sistema de avaliação de bem-estar animal desenvolvido no âmbito do projeto Welfare Quality centra-se em quatro princípios fundamentais que são a alimentação, instalações, sanidade e comportamento das vacas. Estes princípios, por sua vez, englobam 12 critérios de bem-estar, que incluem fundamentalmente medidas baseadas nos animais de caráter físico, clínico e comportamental.

A classificação final de bem-estar com base no referencial
Welfare Quality resulta da conjugação da pontuação obtida
em cada critério, extrapolada para cada um dos 4
princípios, que por intermédio de um modelo matemático
exprime a pontuação final numa escala de 0 a 100.

3. Conclusão

Os protocolos de avaliação são muito úteis para medir o grau de bem-estar animal, mas igualmente para prestar assessoria aos produtores através de medidas corretivas que lhes permitam melhorar os indicadores da exploração. Os parâmetros do contraste leiteiro permitem detetar atempadamente desequilíbrios metabólicos, sendo possível aos técnicos implementar alternativas de maneio nutricional, profilático e terapêutico para diminuir e controlar os impactos negativos nas componentes produtiva, reprodutiva e económica da empresa agropecuária.
Os sistemas de avaliação estão em constante evolução e atualização, continuando a ser aperfeiçoados com inclusão de novas medidas, em que os parâmetros disponibilizados pelo contraste leiteiro se revelam de extrema importância na regularidade e fiabilidade da avaliação das explorações com o desígnio de correções regulares ao maneio dos animais e na garantia da certificação do bem-estar através de um método oficial reconhecido internacionalmente.

Joaquim Lima Cerqueira

Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (ESA-IPVC)
Mosteiro – Refóios do Lima, 4990-706 PONTE DE LIMA
Centro de Ciência Animal e Veterinária (CECAV), UTAD – Vila Real
Email: cerqueira@esa.ipvc.pt

2. Indicadores de bem-estar no contraste leiteiro

Recentemente alguns investigadores e organizações do setor dos bovinos leiteiros têm revelado interesse crescente na utilização de parâmetros do contraste leiteiro na avaliação de bem-estar das vacas leiteiras, destacando-se à priori, quatro áreas de risco do bem-estar muito significativas: reprodução, longevidade, saúde do úbere e doenças metabólicas.

Tabela 1. – Parâmetros do contraste leiteiro valorizados no bem-estar animal

Um dos indicadores produtivos mais interessantes é o DEL (dias em leite), porque permite ilustrar a situação produtiva e reprodutiva do efetivo, sendo fácil de obter quando os registos se encontram atualizados.
Basicamente, é um valor médio do efetivo e considera todas as vacas em fase de lactação. A meta deste importante indicador zootécnico é cifrar-se ao longo do ano, inferior a 180 dias. Assumindo uma lactação normalizada de 305 dias e um período de secagem de 60 dias, o ideal para uma exploração leiteira é que todas as vacas em produção estejam a meio da lactação. Para que isto seja possível e considerando que a duração da gestação é uma constante, as vacas têm de ficar gestantes até aos 90 dias após o parto. De forma oposta, quando o valor de DEL médio do rebanho é superior a 180 dias, indica o inadequado desempenho reprodutivo, já que existe uma menor proporção de vacas no início da lactação. A longevidade produtiva em vacas leiteiras é uma problemática cada vez mais abordada e tendo em conta que as vacas atingem o máximo da sua produtividade entre a terceira e quarta lactação, seria muito interessante alcançar valores médios de vida útil produtiva pelo menos de 4 a 6 lactações. Convém relembrar que a vida produtiva mais longa por vaca leva a menor necessidade de reposição, efetivo com idade produtiva mais rentável (maior produção por vaca), desde que salvaguardados os problemas de saúde e reprodutivos.
A contagem de células somáticas (CCS) é reconhecida mundialmente como um excelente indicador do estado de saúde da glândula mamária da vaca. Independentemente da gravidade da infeção, as mastites caracterizam-se por um aumento da CCS no leite. Na sua maioria (95%) as células somáticas são constituídas por leucócitos, contendo igualmente uma pequena percentagem de células epiteliais de descamação dos tecidos internos do úbere. Deste modo, a CCS no leite é um excecional indicador de infeções intra-mamárias, considerando-se que um animal está infetado quando apresenta valores superiores a 200.000 células/ml.
Na composição do leite, o rácio entre a gordura e a proteína tem sido utilizado por vários autores como bioindicador de diagnóstico de transtornos metabólicos e de avaliação da dieta alimentar. É um indicador para as mudanças na composição do leite em resposta à dieta, uma vez que, em geral, as respostas do aumento de gordura e de proteína apresentam sentidos opostos.
A acidose metabólica tem como reflexo, alterações nas concentrações de gordura no leite. A gordura tende a diminuir com o excesso de hidratos de carbono e com a diminuição do pH do rúmen. Ocorre uma diminuição da relação entre gordura/proteína, pois há uma maior concentração de proteína do que de gordura. Por outro lado, a associação que existe entre o aumento da gordura no leite e a hipercetonémia deve-se, presumivelmente, ao aumento na disponibilidade do BHB e ácidos gordos para a síntese da gordura do leite. Assim, quando o rácio gordura/proteína no leite é elevado funciona como um excelente indicador de cetose nesses animais.
A cetose bovina é uma doença metabólica que ocorre principalmente em vacas de alta produção, no período de transição predominantemente nas três semanas após o parto. Caraterizada por baixos níveis de glucose no sangue associada a uma mobilização de gordura corporal, conduzindo à acumulação endógena excessiva de corpos cetónicos. A concentração de BHB é considerada por alguns autores um bioindicador da diferença entre a energia que o animal necessita e a que ingere (balanço energético), desta forma, pode ser utilizada para identificar as vacas e efetivos mais suscetíveis à ocorrência de balanço energético negativo, hipercetonémia, cetose subclínica e clínica.
A ureia é o maior produto final do metabolismo do azoto das vacas de leite. Esta molécula tem origem em dois processos metabólicos, podendo ser sintetizada no fígado a partir do amoníaco formado no rúmen, ou a partir do catabolismo dos aminoácidos. A concentração de azoto ureico do leite (ureia) também é considerada um bioindicador da composição da dieta alimentar, refletindo a eficiência da sua utilização pelo animal, e é indicativo da quantidade excretada para o meio ambiente.
Desta forma, a medição dos valores de ureia no leite pode ser utilizada como uma ferramenta prática para monitorizar a ingestão de proteína bruta e o consumo de energia em relação às reais necessidades dos animais, sendo desejável efetuar reformulações nas suas dietas sempre que os valores deste parâmetro se afastem do desejável. Através dos níveis de ureia no leite também é possível identificar episódios de acidose e cetose nas vacas leiteiras.

1. Avaliação de bem-estar animal

O bem-estar animal está muito dependente das condições ambientais em que o animal se integra, incluindo a possibilidade de expressão dos comportamentos naturais da espécie, pois normalmente desencadeiam respostas comportamentais e fisiológicas, que permitem aferir se a saúde física e mental são comprometidos.

Para a realização de uma avaliação válida de bem-estar é fundamental recorrer a diferentes indicadores que se complementam entre si. Por isso, a maioria dos protocolos recomendam a utilização de um conjunto de medidas combinadas e quando o bem-estar se revela pobre, seja possível determinar
a origem, a intensidade e a duração do seu efeito sobre o animal.

Atualmente, existe um forte compromisso dos produtores
no cumprimento dos requisitos de bem-estar na produção
animal, como resposta à oferta de produtos de origem
animal que transmitam confiança, segurança alimentar e a
qualidade desejável pelos consumidores finais. Contudo,
foi necessário implementar na produção, sistemas de
certificação de bem-estar animal credíveis e fiáveis, de
carater internacional (exemplo do Welfare Quality®, 2009)
capazes de garantir que o bem-estar dos animais é
assegurado em todas as fases de produção (vitelos,
novilhas, vacas leiteiras).

O sistema de avaliação de bem-estar animal desenvolvido
no âmbito do projeto Welfare Quality centra-se em quatro
princípios fundamentais que são a alimentação,
instalações, sanidade e comportamento das vacas. Estes
princípios, por sua vez, englobam 12 critérios de bem-estar,
que incluem fundamentalmente medidas baseadas nos
animais de caráter físico, clínico e comportamental.

A classificação final de bem-estar com base no referencial
Welfare Quality resulta da conjugação da pontuação obtida
em cada critério, extrapolada para cada um dos 4
princípios, que por intermédio de um modelo matemático
exprime a pontuação final numa escala de 0 a 100.

2. Indicadores de bem-estar no contraste leiteiro

Recentemente alguns investigadores e organizações do
setor dos bovinos leiteiros têm revelado interesse
crescente na utilização de parâmetros do contraste
leiteiro na avaliação de bem-estar das vacas leiteiras,
destacando-se à priori, quatro áreas de risco do bem-estar
muito significativas: reprodução, longevidade, saúde do
úbere e doenças metabólicas.

Tabela 1. – Parâmetros do contraste leiteiro valorizados no bem-estar animal

Um dos indicadores produtivos mais interessantes é o DEL
(dias em leite), porque permite ilustrar a situação
produtiva e reprodutiva do efetivo, sendo fácil de obter
quando os registos se encontram atualizados.

Basicamente, é um valor médio do efetivo e considera
todas as vacas em fase de lactação. A meta deste importante indicador zootécnico é cifrar-se ao longo do
ano, inferior a 180 dias. Assumindo uma lactação
normalizada de 305 dias e um período de secagem de 60
dias, o ideal para uma exploração leiteira é que todas as
vacas em produção estejam a meio da lactação. Para que
isto seja possível e considerando que a duração da
gestação é uma constante, as vacas têm de ficar gestantes
até aos 90 dias após o parto. De forma oposta, quando o
valor de DEL médio do rebanho é superior a 180 dias,
indica o inadequado desempenho reprodutivo, já que
existe uma menor proporção de vacas no início da
lactação.
A longevidade produtiva em vacas leiteiras é uma
problemática cada vez mais abordada e tendo em conta
que as vacas atingem o máximo da sua produtividade
entre a terceira e quarta lactação, seria muito interessante
alcançar valores médios de vida útil produtiva pelo menos
de 4 a 6 lactações. Convém relembrar que a vida produtiva
mais longa por vaca leva a menor necessidade de
reposição, efetivo com idade produtiva mais rentável
(maior produção por vaca), desde que salvaguardados os
problemas de saúde e reprodutivos.

A contagem de células somáticas (CCS) é reconhecida
mundialmente como um excelente indicador do estado de
saúde da glândula mamária da vaca. Independentemente
da gravidade da infeção, as mastites caracterizam-se por
um aumento da CCS no leite. Na sua maioria (95%) as
células somáticas são constituídas por leucócitos,
contendo igualmente uma pequena percentagem de
células epiteliais de descamação dos tecidos internos do
úbere. Deste modo, a CCS no leite é um excecional
indicador de infeções intra-mamárias, considerando-se
que um animal está infetado quando apresenta valores
superiores a 200.000 células/ml.

Na composição do leite, o rácio entre a gordura e a
proteína tem sido utilizado por vários autores como
bioindicador de diagnóstico de transtornos metabólicos e
de avaliação da dieta alimentar. É um indicador para as
mudanças na composição do leite em resposta à dieta,
uma vez que, em geral, as respostas do aumento de
gordura e de proteína apresentam sentidos opostos.

A acidose metabólica tem como reflexo, alterações nas
concentrações de gordura no leite. A gordura tende a
diminuir com o excesso de hidratos de carbono e com a
diminuição do pH do rúmen. Ocorre uma diminuição da
relação entre gordura/proteína, pois há uma maior
concentração de proteína do que de gordura. Por outro
lado, a associação que existe entre o aumento da gordura
no leite e a hipercetonémia deve-se, presumivelmente, ao
aumento na disponibilidade do BHB e ácidos gordos para
a síntese da gordura do leite. Assim, quando o rácio
gordura/proteína no leite é elevado funciona como um
excelente indicador de cetose nesses animais.

A cetose bovina é uma doença metabólica que ocorre
principalmente em vacas de alta produção, no período de
transição predominantemente nas três semanas após o
parto. Caraterizada por baixos níveis de glucose no sangue
associada a uma mobilização de gordura corporal,
conduzindo à acumulação endógena excessiva de corpos
cetónicos. A concentração de BHB é considerada por
alguns autores um bioindicador da diferença entre a
energia que o animal necessita e a que ingere (balanço
energético), desta forma, pode ser utilizada para
identificar as vacas e efetivos mais suscetíveis à ocorrência
de balanço energético negativo, hipercetonémia, cetose
subclínica e clínica.

A ureia é o maior produto final do metabolismo do azoto
das vacas de leite. Esta molécula tem origem em dois
processos metabólicos, podendo ser sintetizada no fígado
a partir do amoníaco formado no rúmen, ou a partir do
catabolismo dos aminoácidos. A concentração de azoto
ureico do leite (ureia) também é considerada um
bioindicador da composição da dieta alimentar, refletindo
a eficiência da sua utilização pelo animal, e é indicativo da
quantidade excretada para o meio ambiente.

Desta forma, a medição dos valores de ureia no leite pode
ser utilizada como uma ferramenta prática para
monitorizar a ingestão de proteína bruta e o consumo de
energia em relação às reais necessidades dos animais,
sendo desejável efetuar reformulações nas suas dietas
sempre que os valores deste parâmetro se afastem do
desejável. Através dos níveis de ureia no leite também é
possível identificar episódios de acidose e cetose nas
vacas leiteiras.

3. Conclusão

Os protocolos de avaliação são muito úteis para medir o
grau de bem-estar animal, mas igualmente para prestar
assessoria aos produtores através de medidas corretivas
que lhes permitam melhorar os indicadores da exploração.
Os parâmetros do contraste leiteiro permitem detetar
atempadamente desequilíbrios metabólicos, sendo
possível aos técnicos implementar alternativas de maneio
nutricional, profilático e terapêutico para diminuir e
controlar os impactos negativos nas componentes
produtiva, reprodutiva e económica da empresa
agropecuária.

Os sistemas de avaliação estão em constante evolução e
atualização, continuando a ser aperfeiçoados com
inclusão de novas medidas, em que os parâmetros
disponibilizados pelo contraste leiteiro se revelam de
extrema importância na regularidade e fiabilidade da
avaliação das explorações com o desígnio de correções
regulares ao maneio dos animais e na garantia da
certificação do bem-estar através de um método oficial
reconhecido internacionalmente.

 

Joaquim Lima Cerqueira

Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (ESA-IPVC)
Mosteiro – Refóios do Lima, 4990-706 PONTE DE LIMA
Centro de Ciência Animal e Veterinária (CECAV), UTAD – Vila Real
Email: cerqueira@esa.ipvc.pt